terça-feira, 22 de setembro de 2009

´Que falta faz um olhar!

Já postei esse texto em outro blog,mas sempre vale a pena mergulhar no mundo de Clarice Lispector.


Ao ler as primeiras linhas percebemos,que falta faz um olhar mais atento sobre nossas vidas.

Como desperdiçamos o conselho:"orai e vigiai".

Orar quer dizer conversar com Deus nosso Pai,quando conseguimos isso,automaticamente entramos em contato com o nosso eu interior,pois ao falar com o Pai tiramos nossas máscaras.

A palavra vigiar significa olhar, observar atentamente.
O que devemos observar atentamente?
A nós próprios!Observe atentamente a você mesmo e às pessoas a sua volta: como você reage a elas e como elas reagem a você. Observe atentamente como você resolve as situações que vive. Vigiai! Observe atentamente como você julga as situações e as pessoas. Quais são os seus pré-conceitos? Observe a quê você dá valor. Perceba se seu comportamento e valores estão coerentes com o propósito de vida cristã.

Que coisa né? A literatura assim como a música pode ser evangelizadora!!!!

Observem e reflitam:


"Olhe para todos a seu redor e
veja o que temos feito de nós.
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não entendemos
porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas, coisas e coisas,
mas não temos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que
já não esteja catalogada.
Temos construído catedrais,
e ficado do lado de fora, pois as catedrais que
nós mesmos construímos,
tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos,
pois isso seria o começo de uma vida
larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de
nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes
sorridentes onde se serve
com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar,
mas sem usar a palavra salvação
para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para
não termos de reconhecer sua contextura de ódio,
de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte
para tornar nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença,
sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo
o grande medo maior e por isso nunca
falamos o que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez
de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para
não rirmos de nós mesmos e para que no
fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo"
e assim não ficarmos
perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos
quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia... "

(Clarice Lispector)

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