domingo, 27 de dezembro de 2009

POEMA DO MENINO JESUS


Aproveitando o clima natalino,vou postar um poema DE Alberto Caeiro bem propícIa para a ocasião por vários motivos,primeiro:o aniversariante é Jesus, e no natal era dele que deveríamos estar falando,segundo:o modo como Ele é retratado quando criança é surpreendente!Um menino travesso que nenhuma igreja pensaria em aceitar!


Poema do Menino Jesus
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

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Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

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Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

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Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O crime do professor de matemática.

O Crime do Professor de Matemática from Denny Lira on Vimeo.



Esse o video é uma produção dos meu alunos do 1°A .Eles são muito "tchucos"ahaha.
Eles leram Clarice Lispector e deram conta do recado.
Parabéns para Deny,Matheus,Ewerton,Gabriel e Bruno(o pobre cachorro)ahhaha!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Comercial

Caminhando ,cantando e ouvindo o chamado!

Caminhando cantando e seguindo o chamado!

http://i235.photobucket.com/albums/ee171/recadosanimados-especiais/mmagics/imagens/lindas/imagem6.jpg

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mais uma da Jemima!

Mais um belo texto da minha amiga Jemima Sivestre
vejam:

Aqueles olhos verdes...

Em uma manhã de domingo ensolarada,eu vi
Pela janela do ônibus eu o vi
Até então era um homem,
Eu o vi passar lentamente, cambaleante
Bêbado de certo,
Julguei-o.
Tinha uma pele morena de tom bonito...
Como se houvesse passado a adolescencia com sua prancha no mar...
Sem preocupações, ele e o mar somente, era o que sua cor parecia contar
De seus olhos não via a cor ainda,
Olhava para o chão a procurar algo...
Olhou um copo,abaixou-se, mostrou intenção de beber
Hesitou.
Drogado, julguei-o.
Tinha a aparência agora de ser mais novo do que eu julgara ser.
Trazia a camiseta no ombro, de bermuda e olhar perdido...
Eram verdes...
Seus olhos eram verdes,agora já podia vê-los
Aquele homem de seus vinte e poucos anos, agora não passava de um menino
Não tinha mais que dezesseis anos,sua pele queimada do sol já me contava outra história...
O mar,a praia,a prancha agora desapareciam
Não eram do menino do Rio aqueles olhos verdes ...
Eu agora esperava em pé em um ponto de ônibus,
O menino se aproximava...
Olhar perdido,não era amargo
Trazia o coração ,vazio de sentimentos ,no olhar...
Passos firmes...temí.
Um ladrão,julguei-o.
Roubar-me-ia de certo,
Aqueles olhos verdes tinham me traído,pensei
O coração acelerou mas não por aquele belo par de olhos,
A palpitação era pelos momentos que antecediam o momento do conflito,inevitável.
Aqueles olhos pareciam não me ver, ele deu um passo em minha direção,
Pronto, teve inicio a luta,pensei... Recuei.
Eu senti-me como Davi antes de enfrentar Golias,
A estátua de Michelangelo retratou muito bem esse momento e se alguém me pudesse ter visto naquele momento,diria que o temor me conferiu o mesmo aspecto,pois o medo dá as mesmas feições aos que o têm.
Nas mãos trazia a camiseta enrolada,
Uma arma...pensei.Talvez um desses canivetes que se não matam ao menos ferem o cidadão.
Fez um movimento brusco,repentino
E é para minha vergonha que lhes conto aqui,que ele nada mais fez que simplesmente se abaixar e apanhar um biscoito de chocolate que estava caído no chão,aos meus pés.
Limpou-o rapidamente na bermuda como uma criança e comeu-o.
Naquele momento,doeu-me a consciência,feriu-me mais do que teria feito se tivesse existido o tal assalto.Feriu-me a alma aquele menino e olhando-o bem se mostrava um menino franzino,frágil e triste.Mostrou-me o quanto está em mim o preconceito da sociedade do qual sou co-participante agora.Hipócritas, julgava-os, todos
São hipócritas,cegos, pois o mais importante da vida vai além do que se vê.
Julguei-o; julguei-os, fui julgada por minha consciência e considerada culpada.
Condenada a levá-los comigo até que consiga livrar-me de todo e qualquer preconceito em mim,ainda os vejo,aqueles olhos verdes...
Os vejo nas esquinas,quando chove,quando faz frio ou quando sento-me à mesa para uma boa refeição.Culpada, voltei várias vezes à procura daqueles olhos verdes para que me absolvessem de meu crime,de meu pecado. E assim vários domingos por ali passei,mas nunca mais os vi,talvez não os veja mais,não sei por onde andam aqueles olhos verdes.