quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mais uma da Jemima!

Mais um belo texto da minha amiga Jemima Sivestre
vejam:

Aqueles olhos verdes...

Em uma manhã de domingo ensolarada,eu vi
Pela janela do ônibus eu o vi
Até então era um homem,
Eu o vi passar lentamente, cambaleante
Bêbado de certo,
Julguei-o.
Tinha uma pele morena de tom bonito...
Como se houvesse passado a adolescencia com sua prancha no mar...
Sem preocupações, ele e o mar somente, era o que sua cor parecia contar
De seus olhos não via a cor ainda,
Olhava para o chão a procurar algo...
Olhou um copo,abaixou-se, mostrou intenção de beber
Hesitou.
Drogado, julguei-o.
Tinha a aparência agora de ser mais novo do que eu julgara ser.
Trazia a camiseta no ombro, de bermuda e olhar perdido...
Eram verdes...
Seus olhos eram verdes,agora já podia vê-los
Aquele homem de seus vinte e poucos anos, agora não passava de um menino
Não tinha mais que dezesseis anos,sua pele queimada do sol já me contava outra história...
O mar,a praia,a prancha agora desapareciam
Não eram do menino do Rio aqueles olhos verdes ...
Eu agora esperava em pé em um ponto de ônibus,
O menino se aproximava...
Olhar perdido,não era amargo
Trazia o coração ,vazio de sentimentos ,no olhar...
Passos firmes...temí.
Um ladrão,julguei-o.
Roubar-me-ia de certo,
Aqueles olhos verdes tinham me traído,pensei
O coração acelerou mas não por aquele belo par de olhos,
A palpitação era pelos momentos que antecediam o momento do conflito,inevitável.
Aqueles olhos pareciam não me ver, ele deu um passo em minha direção,
Pronto, teve inicio a luta,pensei... Recuei.
Eu senti-me como Davi antes de enfrentar Golias,
A estátua de Michelangelo retratou muito bem esse momento e se alguém me pudesse ter visto naquele momento,diria que o temor me conferiu o mesmo aspecto,pois o medo dá as mesmas feições aos que o têm.
Nas mãos trazia a camiseta enrolada,
Uma arma...pensei.Talvez um desses canivetes que se não matam ao menos ferem o cidadão.
Fez um movimento brusco,repentino
E é para minha vergonha que lhes conto aqui,que ele nada mais fez que simplesmente se abaixar e apanhar um biscoito de chocolate que estava caído no chão,aos meus pés.
Limpou-o rapidamente na bermuda como uma criança e comeu-o.
Naquele momento,doeu-me a consciência,feriu-me mais do que teria feito se tivesse existido o tal assalto.Feriu-me a alma aquele menino e olhando-o bem se mostrava um menino franzino,frágil e triste.Mostrou-me o quanto está em mim o preconceito da sociedade do qual sou co-participante agora.Hipócritas, julgava-os, todos
São hipócritas,cegos, pois o mais importante da vida vai além do que se vê.
Julguei-o; julguei-os, fui julgada por minha consciência e considerada culpada.
Condenada a levá-los comigo até que consiga livrar-me de todo e qualquer preconceito em mim,ainda os vejo,aqueles olhos verdes...
Os vejo nas esquinas,quando chove,quando faz frio ou quando sento-me à mesa para uma boa refeição.Culpada, voltei várias vezes à procura daqueles olhos verdes para que me absolvessem de meu crime,de meu pecado. E assim vários domingos por ali passei,mas nunca mais os vi,talvez não os veja mais,não sei por onde andam aqueles olhos verdes.

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